03/03/2014

A CHAVE

Quero poder chorar a minha vida
Que já não me pertence.
A aurora lutou contra o dia
A promessa, no mar, desaparece.
Meus olhos marejam dor
De sangue as lágrimas se fazem
De nuvem o céu se poupa,
O sinal do óbvio.
Sopram os ventos,
Traz dissabores,
Exterminou amores e o
Sinal do fim
Faz-se presente.
Cala-se a vontade
Sobressai a escuridão
Sinto a verdade derramar ódio
e lassidão!
Desconheço a alegria.
Junto os restos da podridão,
Esmolas da vida, sangrentas
de suor e sal.
Da tarde que se vai com letargia
Sem rumo à celebração
Do ritual, “in contentionis".
Rasteja o louco no mar aberto
Sua veste atira ao vento
Encrespa a onda e balança a flâmula,
Sinal do tempo,
Tempo de vento,
Desvario,
Loucura no esmesurado mundo
Que no limo permanece
Não cresce, fenece.
Meu olhar já nada vê.
Sem rumo o coração vai
Com arritmia,
À deriva contra o tempo, e
Até quando não saberei.
O incerto é o certo.
Quero edificar um castelo
De sonhos lúdicos,
Ainda que irreais, transparentes,
Uma lamparina ascender
Sem janelas para ver.
Apenas no lusco fusco,
Morrer lentamente como a chama
Com lucidez e  na insensatez
Da vida, sofrida,
A minha ida será definida e
Definitiva.
O louco já não é louco
Diz ao céus que ele é Deus
Mergulha no livro do Apocalipse
Pensa grande nos seus delírios, desiderios,
Reza alto e prega ao anjo das trombetas.
Uma estrela cai e julga-se "O Senhor"!
Quero ser louco!
Quero ser irracional!
Quero ser Absinto.
Quero beber do meu cálice
Quero o mundo desigual
Quero fingir  ser normal
Quero ofuscar a luz
Quero emergir no lodo
Aguardar minha sentença
Asfixiar por completo meu mundo .
Sou terra escura, sou sol violeta e
Choro agora, a vida que não tive
Por destino ou por opção, talvez descuido.
Choro agora na sofreguidão
A minha hora de pura angústia
De amarga solidão, da atual visão ,
Do necesssitar viver, contexto complexo.
Em meio a culturas tantas
Na minha sala pequena,
Impregnada ...
Tudo e nada,
Só, imersa e
Obsoleta, apenas
escrevo.

23/11/2013

PRANTO DOS MALDITOS

Repressão no sanatório dos indefesos
Apodrecendo em barracão podre, inútil
De uma falsa sociedade de ideologias piegas,
No agito da ociosidade rasgando o corpo,
Que fede a urina à um ranger de chaves.
Eternidade no inferno, grita o velho louco viciado,
Na prisão dos malditos confinados, dopados,
Sedação em massa, devassa e que caça...
Eletrochoques...troço que queima chifres
E eu não sou louco e choro meu amargo desgosto.
Ninguém mais é dono de si de sua razão...
Tabu, ignorância, autdoors , extravagância...
Íntimo devastado pela síndrome da over,
Martírio prolongado às paredes reclusas, em
Gritos e grunhidos pelos corredores escuros.
Sequer alguma luz esmiuçada e ou difusa,
Para algum enredo, na tediosa ociosidade confusa.
Sentimentos indefinidos, secos e cerebelos contidos.
Saudade comprimida, comprimidos, síndromes constantes, sem oblações.
Canto e prantos malditos, cérebros retirantes
Reclusos em cimento, folhas secas sem vontades,
Indefesos com mentes no abandono...completo e indireto...choram lamentos surdos.
Quanto horror causa ao ser humano a
Confusa guerra a anestesia geral esse bloqueio mental.
Um maldito sã, sonhou sonhos interrompidos... e de
Coração vazio, amedrontado, volta seca ao ninho ressequido, que já nada tem sentido, apenas retorna
Sem grito nem gemido, indefinido, entristecido e
Apodrecido.

MOVIMENTO

   Braços abertos, olhar panorâmico, estático movimento, Cristo. Aproxima-se e some com o movimento de sentimentos de concreto e borracha, lata e ferro, rodas-asfalto e no alto vigia tudo sem distinção de raça e ou, cor sem presunção ou condição de status, com magnificência, sem violência e com toda beneficência. O verde respira verdade e o faz grande e único. Ele. Cristo de braços abertos no pedestal secreto, rochoso relevo dos deuses e suas entranhas de concreto e de espírito de um só Deus, sem auréola, feito de pedra. Pedra é Ele. Não rola. É movimento, é espírito. Não, ao delito. - A cúpula da Igreja de Santa Terezinha, abaixo, acanhada e bela some por entre os ciprestes. Viadutos e movimento. Som some, vem e vai ao ouvido, ruído, alarido sem sentido e vejo se distanciar, Ele, o Cristo. É o movimento. Intenso e tenso. Penso. Por baixo do viaduto passo e mais: barulho mais intenso. É o movimento. Letras brancas, que, rápidas leio: “Gentileza gera gentileza”. Em movimento repenso e chego a um consenso da frase deixada pelo poeta, que vive na cidade; o movimento nos proporciona ver o trajeto das marcas do poeta andarilho, um Cristo de vestes e madeixas brancas na terra, nosso tempo, propagador da delicadeza, de seu movimento que, lento e calmo deixou o rastro do seu movimento do seu protesto lento e em desenvolvimento nas duras pedras do viaduto, reduto... Sentimento de poeta louco-lúcido, como poucos. Passa a árvore, passa o mendigo, passa a enseada, pálida, em disparada, passa o vento mais intenso, velocidade extrema interna da alma, perimetral cumprida; apita o guarda e o som some no movimento desatento ao tempo que migra rápido e morre lento sem discernimento, sem tempo porque o tempo é movimento do momento à soluções baratas e inesperadas de um dia que corre sem sombras de amor e de vida apenas, réstias do caminho percorrido nas sinuosas vias de Botafogo e Flamengo, com uma outra réstia azul de horizonte próximo, com  ar de um dever cumprido ou um início de mais uma etapa do dia, que inesperadamente se choca contra a placa irônica de apenas 60 km por hora e o tédio do barulho dos carros e buzinas fazem transpirar os poros do mortal que a beira do caminho se desculpa com o guarda sem ao menos um triângulo para sinalizar. Azar. Parado momento no movimento. Congestionamento. Que fazer? – Olha a sua direita, aos céus, e esquece-se do guarda e o barulho some. E o movimento? – Cadê? – o quê vê? – Apenas uma visão fixa de um sentimento singular e onipotente que ignora o momento do movimento em andamento, à tortura momentânea da burocracia, na enseada de Botafogo à beira da avenida. Estático e translúcido no pensamento do mortal, Ele. O Cristo de pedra lhe dá alento e vigília, no instante do tempo em movimento, parado no momento.

22/11/2013

UM BREVE OLHAR

Da janela,o meu cartão postal.O cargueiro, vermelho e bege, chega lento e some da paisagem na quina do meu prédio, ao porto. Outra pequena embarcação segue o mesmo percurso e também se vai.  Permanecem, junto ao relevo, ao lado de uma construção indefinida, duas lâmpadas acesas, cor de neon quase invisíveis; tudo isso paralelo ao quotidiano e ao mundo do seu entorno. Porém, permanentemente e próximas, bailam em pura delicadeza e felicidade, as andorinhas aguardando o verão, embora o tempo esteja brusco e sem graça. Duplamente as vejo espelhadas pelo vidro da janela, próxima ao ninho,num tubo largo de PVC, e me sinto feliz. 

21/11/2013

RAZÃO METAFÍSICA

Restos são demais
A ilusão não se renova
Inúteis são os ais
Que ecoam  n' alcova
A dor sangra e fere
A agonia nega o viver
A boca beija pálida
Não nega a orgia,
Rola ao chão sem pudor
A noite fecha o dia.
Músculos frágeis
Crispam corpos sem forças.
Nas veias o incontrolável néctar,
Ambrosia e suor,
Narcisos de momentos
Fragmentos lúdicos
Metamorfose sem performance
Mágoa surge e urge
Macula as tábuas frias,
Sem alegria  e sem magias.
Com suor de pânico
Seringas... angústia pronta
A madrugada aponta
N'alcova fria ... vazia.
Suor e adrenalina
Metafísica.